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A gestão de plataformas como o Salesforce exige não apenas velocidade na entrega, mas também uma visão estratégica que assegure a sustentabilidade das soluções ao longo do tempo. É neste ponto que surge o conceito de dívida técnica — um desafio invisível no início, mas com impacto crescente à medida que os sistemas evoluem.

No artigo que se segue, o nosso Developer Consultant, Ricardo Rodrigues, explica de forma prática o que é a dívida técnica em Salesforce, como se manifesta no dia a dia de projetos e que estratégias podem ser aplicadas para preveni-la ou reduzi-la.

Um contributo essencial para qualquer equipa que queira construir soluções sólidas e duradouras, sem comprometer a qualidade a longo prazo.

Dívida Técnica em Salesforce: O Preço Invisível das Decisões Rápidas

Num projeto Salesforce, o impacto das decisões técnicas nem sempre é imediato. Mas à medida que o sistema cresce, os atalhos escolhidos no início para acelerar a entrega transformam-se em obstáculos. A dívida técnica é o nome dado a esse acumular de más decisões ou soluções temporárias que sacrificam a qualidade a longo prazo. Em Salesforce, pode surgir no código, na configuração ou até no modelo de dados.

 

Dívida Técnica: Uma Definição Prática

A dívida técnica é o custo futuro provocado por decisões que privilegiam a velocidade do presente. Pode surgir por falta de planeamento, pressa, desconhecimento da plataforma ou ausência de standards. Tal como uma dívida financeira, cresce com o tempo se não for “paga” sob a forma de rework, bugs recorrentes, rigidez do sistema ou frustração da equipa.

Exemplos Comuns em Salesforce: Entre o Declarativo e o Programático

Salesforce oferece poderosas ferramentas declarativas. Uma dádiva que também pode ser uma armadilha.

Alguns exemplos práticos de dívida técnica:

  • Flows descoordenados: vários flows a correr no mesmo objeto, em momentos diferentes, sem lógica centralizada.
  • Campos redundantes: o mesmo dado replicado em múltiplos objetos, dificultando a manutenção.
  • Objetos genéricos: dezenas de campos opcionais que criam confusão em layouts e lógica.
  • Triggers sem estrutura: código disperso, sem ordem, com lógica de negócio duplicada.
  • Mau uso de picklists e texto livre: inconsistência nos dados e dificuldades em relatórios.

Sinais de Dívida Técnica: Como Reconhecer o Problema

  • Alterar um fluxo implica rever outros três;
  • Um campo tem o mesmo nome de outro… mas faz algo diferente;
  • Layouts com 40 campos que raramente são preenchidos;
  • O comportamento muda sem motivo aparente;
  • A performance degrada-se à medida que a base de dados cresce.

Prevenção e Redução: Estratégias Concretas

Combater a dívida técnica não é apenas apagar fogos. É ter uma abordagem estruturada.

Algumas boas práticas:

  • Rever e simplificar automações: consolidar flows, usar subflows e evitar lógicas paralelas.
  • Adotar padrões para triggers: como o Trigger Handler Pattern, que garante clareza e reutilização.
  • Seguir boas práticas de modelação: separar entidades quando dados ou comportamentos são distintos.
  • Evitar “campos para tudo”: criar objetos quando se justifica, usar Record Types quando apenas o comportamento difere.
  • Documentar decisões: saber porque algo foi feito é tão importante como saber o que foi feito.

O Impacto Real da Dívida Técnica

Se não for gerida, a dívida técnica traz consequências significativas:

  • Perda de produtividade: mais tempo gasto a corrigir do que a construir.
  • Limitações na evolução: dificuldade em adaptar o sistema a novos requisitos.
  • Frustração da equipa: difícil manter a motivação num ambiente caótico.
  • Desconfiança dos utilizadores: funcionalidades inconsistentes ou que “quebram” com frequência.

Salesforce Merece uma Arquitetura Séria

O facto de ser fácil criar em Salesforce não deve ser confundido com a ideia de que não é preciso pensar a arquitetura desde o início.

Menos dívida técnica significará, durante todo o âmbito temporal do projeto, mais agilidade, menos rework e maior confiança em cada entrega.

A dívida técnica não se elimina totalmente, mas pode ser controlada. Quanto mais cedo começar a ser gerida, menor será o custo no futuro.

Ricardo Rodrigues

Developer Consultant @Step Ahead Consulting